quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Uma nova igualdade depois da crise. Artigo de Eric Hobsbawm

Publicamos aqui parte da conferência que o historiador inglês e membro da Academia Britânica de Ciências Eric J. Hobsbawn apresentou no primeiro dia do World Political Forum, em Bosco Marengo (Alexandria). Do Fórum deste ano, sobre o tema "O Leste: qual futuro depois do comunismo?", participam, dentre outros, Mikhail Gorbachev e Yuri Afanasiev.

Segundo Hobsbawn, todos os países do Leste, assim como os do Oeste, devem sair da ortodoxia do crescimento econômico a todo custo e dar mais atenção à equidade social. Os países ex-soviéticos, afirma, ainda não superaram as dificuldades da transição para o novo sistema.

O texto foi publicado no jornal La Repubblica, 09-10-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

O "século breve", o XX, foi um período marcado por um conflito religioso entre ideologias laicas. Por razões mais históricas do que lógicas, ele foi dominado pela contraposição de dois modelos econômicos – e apenas dois modelos exclusivos entre si – o "Socialismo", identificado com economias de planejamento central de tipo soviético, e o "Capitalismo", que cobria todo o resto.

Essa contraposição aparentemente fundamental entre um sistema que ambiciona tirar do meio do caminho as empresas privadas interessadas nos lucros (o mercado, por exemplo) e um que pretendia libertar o mercado de toda restrição oficial ou de outro tipo nunca foi realista. Todas as economias modernas devem combinar público e privado de vários modos e em vários graus, e de fato fazem isso. Ambas as tentativas de viver à altura dessa lógica totalmente binária dessas definições de "capitalismo" e "socialismo" faliram. As economias de tipo soviético e as organizações e gestões estatais sobreviveram aos anos 80. O "fundamentalismo de mercado" anglo-americano quebrou em 2008, no momento do seu apogeu. O século XXI deverá reconsiderar, portanto, os seus próprios problemas em termos muito mais realistas.

Como tudo isso influi sobre países que no passado eram devotados ao modelo "socialista"? Sob o socialismo, haviam reencontrado a impossibilidade de reformar os seus sistemas administrativos de planejamento estatal, mesmo que os seus técnicos e os seus economistas estivessem plenamente conscientes das suas principais carências. Os sistemas – não competitivos em nível internacional – foram capazes de sobreviver até que pudessem continuar completamente isolados do resto da economia mundial.

Esse isolamento, porém, não pôde ser mantido no tempo, e, quando o socialismo foi abandonado – seja em seguida à queda dos regimes políticos como na Europa, seja pelo próprio regime, como na China ou no Vietnã – estes, sem nenhum pré-aviso, se encontraram imersos naquela que para muitos pareceu ser a única alternativa disponível: o capitalismo globalizado, na sua forma então predominante de capitalismo de livre mercado.

As consequências diretas na Europa foram catastróficas. Os países da ex-União Soviética ainda não superaram as suas repercussões. A China, para sua sorte, escolheu um modelo capitalista diferente do neoliberalismo anglo-americano, preferindo o modelo muito mais dirigista das "economias tigres" ou de assalto da Ásia oriental, mas abriu caminho para o seu "gigantesco salto econômico para frente" com muito pouca preocupação e consideração pelas implicações sociais e humanas.

Esse período está quase às nossas costas, assim como o predomínio global do liberalismo econômico extremo de matriz anglo-americana, mesmo que não saibamos ainda quais mudanças a crise econômica mundial em curso implicará – a mais grave desde os anos 30 –, quando os impressionantes acontecimentos dos últimos dois anos conseguirão se superar. Uma coisa, porém, é desde já muito clara: está em curso uma alternância de enormes proporções das velhas economias do Atlântico Norte ao Sul do planeta e principalmente à Ásia oriental.

Nessas circunstâncias, os ex-Estados soviéticos (incluindo aqueles ainda governados por partidos comunistas) estão tendo que enfrentar problemas e perspectivas muito diferentes. Excluindo de partida as divergências de alinhamento político, direi apenas que a maior parte deles continua relativamente frágil. Na Europa, alguns estão assimilando o modelo social-capitalista da Europa ocidental, mesmo que tenham um lucro médio per capita consideravelmente inferior. Na União Europeia, também é provável prever o aparecimento de uma dupla economia. A Rússia, recuperada em certa medida da catástrofe dos anos 90, está quase reduzida a um país exportador, poderoso mas vulnerável, de produtos primários e de energia e foi até agora incapaz de reconstruir uma base econômica mais bem balanceada.

As reações contra os excessos da era neoliberal levaram a um retorno, parcial, a formas de capitalismo estatal acompanhadas por uma espécie de regressão a alguns aspectos da herança soviética. Claramente, a simples "imitação do Ocidente" deixou de ser uma opção possível. Esse fenômeno ainda é mais evidente na China, que desenvolveu com considerável sucesso um capitalismo pós-comunista próprio, a tal ponto que, no futuro, pode também ocorrer que os historiadores possam ver nesse país o verdadeiro salvador da economia capitalista mundial na crise na qual nos encontramos atualmente. Em síntese, não é mais possível acreditar em uma única forma global de capitalismo ou de pós-capitalismo.

Em todo caso, delinear a economia do amanhã é talvez a parte menos relevante das nossas preocupações futuras. A diferença crucial entre os sistemas econômicos não reside na sua estrutura, mas sim na suas prioridades sociais e morais, e estas deveriam portanto ser o argumento principal do nosso debate. Permitam-me, por isso, a esse ilustrar dois de seus aspectos de fundamental importância a esse propósito.

O primeiro é que o fim do Comunismo comportou o desaparecimento repentino de valores, hábitos e práticas sociais que haviam marcado a vida de gerações inteiras, não apenas as dos regimes comunistas em estrito senso, mas também as do passado pré-comunista que, sob esses regimes, haviam em boa parte se protegido. Devemos reconhecer quanto foram profundos e graves o choque e a desgraça em termos humanos que foram verificados em consequência desse brusco e inesperado terremoto social. Inevitavelmente, serão necessárias diversas décadas antes de que as sociedades pós-comunistas encontrem uma estabilidade no seu "modus vivendi" na nova era, e algumas consequências dessa desagregação social, da corrupção e da criminalidade institucionalizadas poderiam exigir ainda muito mais tempo para serem combatidas.

O segundo aspecto é que tanto a política ocidental do neoliberalismo, quanto as políticas pós-comunistas que ela inspirou subordinaram propositalmente o bem-estar e a justiça social à tirania do PIB, o Produto Interno Bruto: o maior crescimento econômico possível, deliberadamente inigualitário. Assim fazendo, eles minaram – e nos ex-países comunistas até destruíram – os sistemas da assistência social, do bem-estar, dos valores e das finalidades dos serviços públicos. Tudo isso não constitui uma premissa da qual partir, seja para o "capitalismo europeu de rosto humano" das décadas pós-1945, seja para satisfatórios sistemas mistos pós-comunistas.

O objetivo de uma economia não é o ganho, mas sim o bem-estar de toda a população. O crescimento econômico não é um fim, mas um meio para dar vida a sociedades boas, humanas e justas. Não importa como chamamos os regimes que buscam essa finalidade. Importa unicamente como e com quais prioridades saberemos combinar as potencialidades do setor público e do setor privado nas nossas economias mistas. Essa é a prioridade política mais importante do século XXI.

Fonte: Instituto Humanitas Unisinos

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Eleições no Uruguai

No último Domingo aconteceram as eleições presidenciais e legislativas (senadores e deputados) na República Oriental do Uruguai.

José Mojica e e o vice Danilo Astori da Frente Ampla ficaram com 47,5% dos votos, indo para o segundo turno (que ocorrerá no final de novembro) com os segundos colocados Luis Alberto Lacajje e Jorge Larrañaga do Partido Nacional que galgaram 28,5% dos votos.

Os candidatos do Partido Colorado (Pedro Bordaberry e Hugo de León), do Partido Independente (Pablo Mieres e Iván Posada), e da Assembleia Popular (Raúl Rodríguez e Delia Villalba) ficaram para trás na disputa eleitoral.

Ontem a cidadania também foi exercida no Uruguai por meio da votação em dois plebiscitos.

O primeiro decidiria sobre a anulação da Ley de Caducidad, que impede o julgamento dos responsáveis pela ditadura militar uruguaia por meio da anistia.

O segundo referia-se ao Voto Epistolar que decidiria sobre a possibilidade de cidadãos uruguaios residentes no exterior participarem ativamente das próximas eleições sem se deslocarem ao Uruguai.

Ambos os plebiscitos não alcançaram os 50% de votos necessários tanto para a anulação da Ley de Caducidad, como para a aprovação do Voto Epistolar. Leia mais clicando AQUI.


*As notícias ainda são escassas e ontem pudemos acompanhar o processo eleitoral por meio de rádios comunitárias uruguaias on-line (clique AQUI).

*Veja os textos publicados no UOL (clique AQUI e AQUI), na BBC Brasil (clique AQUI), Portal Vermelho (clique AQUI) na Carta Maior (clique AQUI)

*Algumas informações foram retiradas da Agencia Púlsar. (clique AQUI)


*Sobre a Ley de Caducidad, clique AQUI.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Debates (in)convenientes III


OS USOS DO PASSADO E A ANISTIA NO BRASIL


20h
- Mesa-Redonda com:
Prof. Dr. Benito Bisso Schmidt (PPGH-UFRGS e Memorial da Justiça do Trabalho no Rio Grande do Sul)
Profa. Dra. Carla Simone Rodeghero (PPGH-UFRGS)
Prof. Dr. Cláudio Pereira Elmir (PPGH-UNISINOS)
Coordenação: Profa. Dra. Marluza Marques Harres (PPGH-UNISINOS)

Mesa antecedida pelo lançamento da Revista História UNISINOS

19h30min - Lançamento da Revista História UNISINOS vol. 13, n. 2, mai/ago 2009
Profa. Dra. Heloísa Jochims Reichel (PPGH, Editora da Revista História UNISINOS)
Dossiê: "Narrativas de militância e narrativas de exílio"

Local: Mini-Auditório da Biblioteca da UNISINOS
Dia: quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Horário: das 19h30min às 22h30min.
Evento Gratuito

Promoção: Programa de Pós-Graduação em História e Curso de Graduação em História (UNISINOS).

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Militares paraguaios abrem arquivos a vítimas da ditadura

"A abertura dos arquivos foi obtida graças a um acordo entre o governo e organizações de defesa dos direitos humanos, depois de um pedido apresentado pelas vítimas da ditadura ao presidente socialista, Fernando Lugo.

"Esse é um dia histórico. Estamos no sótão do Ministério da Defesa e estamos encontrando uma tonelada de documentos", disse o ativista de direitos humanos Martín Almada.

Ele destacou a descoberta de informes sobre militares estrangeiros envolvidos no Plano Condor..." leia mais em http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2009/10/14/militares+paraguaios+abrem+arquivos+a+vitimas+da+ditadura+8833091.html

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